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Notícias

4 de dezembro de 2017

A Sala

Imagine uma sala e quatro pessoas lá dentro. Cada uma está em um canto diferente do recinto. Por conta do lugar que ocupam dentro desta sala, cada uma destas quatro pessoas enxergará a sala sob um ângulo – o seu, e só. O primeiro talvez veja a janela, mas não o armário. O segundo verá a porta, mas não o sofá. O terceiro enxergará o armário, mas não a janela; e o quarto avistará a mesa e o sofá, mas não a porta e o armário. Apesar disso, a sala continuará sendo a mesma, com sua janela, porta, armário, mesa e sofá. A sala não muda só por que as pessoas que ali estão enxergam apenas um pedaço da sala. É por isso que o ditado diz que o ponto de vista de cada um é apenas a vista do ponto onde cada um está.

O Brasil é esta sala: uma sala enorme, na qual cabem mais de 200 milhões de pessoas. E como dois corpos não podem ocupar simultaneamente o mesmo lugar, cada uma destas pessoas está em um ponto diferente da sala – logo, cada uma enxerga a sala de um jeito, a partir do seu ângulo. Mesmo que estejam lado a lado, a perspectiva pode mudar drasticamente.

Este espacinho, que ocupamos nesta sala chamada Brasil, é determinado pelo nosso contexto e pela bagagem que carregamos, ou seja: educação, família, religião, ideologias, privilégios, oportunidades, traumas, experiências. Tudo o que já aconteceu em nossa vida – da instrução que recebemos aos filmes que já assistimos – define qual o nosso lugar nesta sala. De modo que é bem difícil enxergar através dos olhos alheios, já que o outro terá um contexto e uma bagagem diferentes dos seus.

Agora imagine que, dentre os milhões de indivíduos que estão dentro desta sala, muitos ainda são relativamente cegos. Não enxergam direito nem aquilo que está ao alcance de sua visão. Alguns estão vendados, e literalmente não enxergam nada. Esta cegueira, esta venda, chama-se ignorância, fanatismo, preconceito. Consequências óbvias da falta de uma educação de qualidade, verdadeiramente libertadora, que ensine a pensar, a questionar, a sentir, a refletir. Que ensine a ver.

É assim que eu percebo nosso país neste momento. Todos nós, dentro da mesma sala, alguns cegos, alguns não, defendendo fervorosamente o seu ponto de vista como se ele fosse o único verdadeiro. Acreditamos que enxergamos a sala inteira – como a maioria dentro da sala também acredita – sem perceber que nosso ponto de vista é apenas a vista do nosso ponto. Do lugar que habitamos. Do quadradinho minúsculo no qual resumimos nossa existência.

Necessitamos compreender essa limitação. Assumir que não enxergamos o todo, e estar aberto para ouvir sobre a perspectiva do outro, que vê o que você não vê, do mesmo modo que você também vê o que ele não vê.

É preciso parar de gritar e amadurecer – intelectualmente, emocionalmente, politicamente, totalmente – se pretendemos um dia entender a magnitude e a complexidade da imensa sala que habitamos.

Por que nós somos milhões, mas a sala é uma só.

 

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