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9 de agosto de 2016
Comigo é diferente. Só que não
O mundo seria um lugar melhor e mais suportável se tivéssemos com os erros dos outros a mesma tolerância que temos com os nossos erros.
Perdoamos e justificamos nossas falhas com convicção; mas quando a falha vem de terceiros – e mesmo que seja a mesmíssima falha que cometemos – criticamos, condenamos, e não demonstramos um décimo da generosidade e indulgência que tivemos conosco, quando a falha partiu de nós.
– Comigo é diferente.
E eu pergunto: por quê? Você por acaso é especial? Você é diferente do resto da humanidade? Seus motivos são mais nobres que os motivos alheios? Creio que não.
Censurar e apontar o dedo para o próximo também é uma forma de fazer com que a gente se sinta superior aos demais. Pois, quando eu critico os erros do meu vizinho, dou a entender que jamais cometeria estes erros. Logo, sou melhor do que o vizinho, e esta impressão equivocada me deixa momentaneamente satisfeita.
O certo seria o contrário: que fôssemos rígidos com os nossos erros, e tolerantes e compreensivos com os erros dos outros. Assim, pelo menos demonstraríamos um pouco de grandeza e benevolência, além de vontade de acertar.
Mas não! Somos juízes implacáveis e insensíveis somente com os desacertos alheios. Com os nossos, somos compassivos e condescendentes. O que só demonstra nossa total incompetência em nos colocarmos no lugar do outro.
Contudo, creio que o fato de utilizarmos dois pesos e duas medidas no momento de avaliar a gravidade do mesmo ato não demonstra apenas incapacidade afetiva; é egoísmo também, e principalmente. Muitas pessoas simplesmente optaram pela intolerância. Escolheram ser intransigentes e severas com os erros dos outros, pois assim mascaram e disfarçam os seus erros. Enquanto apontam para o rabo alheio, se distraem e não enxergam o seu próprio rabo.
Sugiro um desafio ao caro leitor: nas próximas vinte e quatro horas, tente prestar atenção nas críticas que fará aos que o rodeiam. Veja se você mesmo não poderia ser alvo das acusações que faz; se não comete os mesmos erros que recrimina nos outros. Nas próximas vinte e quatro horas, tenha com o vizinho a mesma paciência e tolerância que tem consigo próprio, e com os seus. E somente nas próximas vinte e quatro horas, julgue os seus atos com a mesma severidade com que sempre julgou os atos alheios.
Porque nossa intransigência e rigidez no julgamento do próximo mostram apenas o quanto somos mesquinhos, pequenos e limitados para resolver os nossos próprios defeitos.