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Notícias

10 de janeiro de 2017

"Mulher precisa provar duas vezes que é competente"

ENTREVISTA
TEODORA LÜTKEMEYER

Sucessor vai receber prefeitura com dinheiro em caixa, 23 obras em andamento e excelente organização administrativa

Em resposta a uma das questões desta entrevista realizada pela editora do jornal A Folha, Helaine Gnoatto Zart, a prefeita de Não-Me-Toque, que encerra o mandato neste sábado, 31 de dezembro, confirma porque poucas mulheres são eleitas para cargos no Executivo e Legislativo. “É preciso se preparar muito, porque mulher tem que provar duas vezes que é competente”.
Teodora Berta Souilljee Lütkemeyer fala de seu legado, frustrações e do orgulho pela oportunidade de atuar à frente do Executivo Municipal por dois anos e nove meses.
Reeleita vice-prefeita na dobradinha com Antônio Vicente Piva, Teodora assumiu o comando do município quando Piva decidiu renunciar para disputar uma candidatura na Assembleia Legislativa pelo PP.
A primeira mulher a ser prefeita de Não-Me-Toque, mesmo já familiarizada com a gestão pública, precisou se desdobrar para dar andamento ao plano de governo e manter o município na liderança regional em desenvolvimento.

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A FOLHA - Qual o sentimento neste momento em que se encerra o seu mandato?
TEODORA – Meu sentimento é de dever cumprido. Junto com nossa equipe de governo conseguimos executar cerca de 70% do planejado e só não foi mais porque ao longo do mandato foram surgindo outras questões ainda mais relevantes. Também convivo com a angústia da mudança no ritmo de vida, pois serão dias muito mais calmos, sem uma agenda de compromissos que absorvia meus dias de segunda-feira a domingo. Acredito que vou encontrar alternativa para suprir essa energia de trabalho, afinal terei tempo para cuidar dos interesses da família, coisa que há muito tempo não ocorre.
Saio agradecida por ter conseguido construir muitas parcerias dentro dos dois pilares que elegi como prioridade que quando assumi como prefeita: profissionalismo e participação.

E como trabalhou esses dois pilares?
Com a certeza de que é possível trazer profissionalismo ao serviço público, aplicando técnica e qualidade. A participação da Câmara de Vereadores na gestão, que já vinha ocorrendo com o Piva, foi mantida e fortalecida. Através da valorização dos Conselhos Municipais, que hoje são 22 para os quais destinamos uma sala e uma assessora que acompanhou todas as reuniões e serviu de elo com meu gabinete para trazer os anseios e demandas. Foi um jeito de trabalhar que acredito ter contribuído muito para o alcance dos resultados da gestão. Também é importante ressaltar a contribuição dos secretários, que desempenharam suas funções contribuindo para o alcance das metas e dividindo comigo a representação em eventos, especialmente nas ocasiões que havia choque de datas. As reuniões semanais da equipe contribuíram para trabalharmos em harmonia e atendermos com maior eficiência a comunidade. A divulgação da agenda semanal na imprensa também foi uma estratégia que serviu até como prestação de contas para a comunidade.

De que forma aliou as parcerias à sua gestão?
O Conselho de Desenvolvimento Social (CDES) foi uma das mais importantes e já estava no plano de governo do Piva e meu. Mas foi quando me vi sozinha frente ao Executivo que decidi criar e convidar dez lideranças de diversas áreas empresariais para atuar. Foi uma parceria com excelentes resultados e sou muito grata a estas lideranças que aceitaram contribuir.

A senhora sempre foi considerada uma pessoa técnica, com habilidade em planejamento e gestão. Chega ao fim da gestão com alto índice de reconhecimento, mas sem ter testado suas habilidades políticas como candidata. Isso está nos seus planos de futuro?
Não concorri desta vez porque tive 16 anos de participação contínua nas gestões – 8 anos como secretária, 5 anos como vice-prefeita e quase três anos como prefeita. Optei por não concorrer para dar um tempo e também para ter mais presença na família. Dezesseis anos atrás eu tinha dois filhos em idade escolar e uma filha bebê que hoje está ingressando na faculdade.
Sobre concorrer futuramente, não tenho nada definido, nem sim nem não. Até então, nunca havia pensado em concorrer, porque as pessoas diziam que eu era muito séria e técnica. Realmente tenho esse perfil, mas também acho que neste período que estive à frente do Executivo pude demonstrar a habilidade política do relacionamento e da capacidade de abertura. Agora a comunidade pode me ver de outra forma. Acredito que o conhecimento sobre gestão e planejamento sejam imprescindíveis para um bom político

Entende que as exigências do eleitor com relação aos políticos mudaram?
Percebo claramente que a população quer um político diferente, mais técnico, correto e que pense no coletivo. Desde que iniciaram os movimentos sociais contra a corrupção, com os desdobramentos da lava-jato, os político todos caíram na vala comum, passaram a ser julgados pela opinião pública como se fossem todos iguais. Pra mim foi uma decepção, porque eu não me incluo neste rol. Eu trabalho de uma forma diferente, procuro ser correta e transparente nos meus atos. Apesar dessa exigência manifestada pela opinião pública, existe uma tendência de grande parte de o eleitor julgar o político pelo atendimento ou não de seus interesses pessoais, uma visão umbigocêntrica, não pelo atendimento do interesse geral de uma comunidade.

As redes sociais também protagonizaram manifestações generalizadas contra os políticos. A Senhora sofreu diretamente com alguma crítica que não considerou justa?
Sou humana e, como todos, sofro com as críticas, especialmente quando elas são pessoais. Teve caso de ofensa pessoal com palavrão, termos pejorativos e outro em que desejaram que “a família da prefeita deveria ser vítima”, referindo-se ao mau estado da ERS 142. Mas posso dizer que neste final de mandato tenho recebido cartas e cartões de pessoas reconhecendo e cumprimentando pelo trabalho coletivo que foi realizado.

O que acredita estar deixando como legado?
Tem algo que vai além das obras de infraestrutura, mas que é primordial para o desenvolvimento e para a melhoria da prestação de serviço público que é a desburocratização, para a qual avançamos muito. Também estamos deixando uma cidade mais bonita, que ainda pode melhorar. Outro aspecto importante e a humanização da gestão. O Gabinete Aberto iniciado pelo Piva é um espaço importante para a comunidade e foi percebido como tal. Sempre tivemos muita gente nos procurando e nós procuramos dar o retorno no atendimento às questões relevantes, visitando o local das demandas e acompanhando o atendimento dos serviços solicitados, sempre junto com os secretários. Foi uma oportunidade de trabalhar politicamente muito enriquecedora e acredito que ficará como uma marca deste governo.

Tem algo que a deixa frustrada do período de vida pública?
Obras que não consegui fazer, como resolver o alagamento que ocorre na Rua Pinheiro Machado no cruzamento com a Frei Olimpio Reichert, que demanda um alto investimento e foi impossibilitado devido às sucessivas quedas nas arrecadação de impostos causadas pela crise. Conseguimos resolver dois dos problemas graves, na Av. Dr. Waldomiro Graeff com a Rua Carazinho e no bairro Martini. Não conseguimos atender alguns pontos de infraestrutura nas estradas do interior; investir em praças nos bairros; mais em iluminação pública, pontos dos quais que acreditam venham a ser atendidos nos próximos anos. Vamos deixar projetos prontos e recursos em caixa que poderão ser empregados na execução de projetos de infraestrutura que estão prontos para serem licitados, como pavimentação de 4 quadras no bairro Martini. Conseguimos economizar e teremos um bom superávit que será totalizado até quinta-feira. Além dos recursos economizados, ainda termos um incremento de R$ 816 mil referente à repatriação de ativos brasileiros não declarados no exterior, que poderá ser duplicado com os juros, conforme promessa do Presidente Michel Temer.

O que falta para as mulheres conquistarem mais espaço nas urnas?
É uma questão complicada. Parece que mulher não vota em mulher, mesmo quando são a maioria dos eleitores. Nossa Câmara é um exemplo, pois temos novamente apenas uma mulher vereadora. Falta a consciência das mulheres, mas também penso que, quem se candidata precisa se preparar, porque a mulher precisa comprovar que é competente duas vezes mais do que o homem. Essa competência é indiscutível se olharmos para nossa sociedade, nas empresas e nas entidades, onde temos inúmeras mulheres que se destacam, porque se preparam para a respectiva função, então isso deveria ocorrer também quando ingressam numa campanha eleitoral. Esse preparo é com relação às propostas, à argumentação e ao propósito da candidatura. Durante a gestão nós procuramos trabalhar a questão do empoderamento da mulher, com a criação do Conselho, realização de seminários, mas a mulher também precisa se reconhecer como líder e vencer o medo de enfrentar a política.

O fato de a mulher ter que conciliar família e trabalho atrapalha na decisão de concorrer a um cargo político?
Acredito que sim, porque realmente a família fica bastante de lado. É preciso compensar o longo tempo de ausência. O trabalho na política suga muito tempo e energia. Muitas vezes tivemos que conversar juntos e eu reajustar minha agenda para atender melhor a família. Não é possível desassociar da função, no supermercado, na rua, as pessoas sempre abordam e falam com a prefeita. Então, mesmo nos momentos com a família eu mantinha um bloquinho para anotações de questões públicas. São questões que realmente podem inibir a mulher, então é importante que a decisão de ingressar na política seja tomada num momento que ela possa abrir mão de grande parte de sua vida pessoal, com a concordância e apoio da família.

Tem algo que faria diferente, como prefeita?
Muita coisa se aprende com o tempo. Penso que poderia ter trabalhados de outro jeito em questões como gestão de equipe, promovendo mais capacitação para os servidores, porque o que foi feito nesta área teve excelentes resultados. Algumas secretarias poderiam ter trabalhando mais conjuntamente, numa transversalidade que dinamizaria questões duplicadas. Ampliação das terceirizações também. Embora tenhamos conseguido muitos recursos com projetos, acredito que poderíamos ter conseguido ainda mais.

Qual a situação do município que será entregue ao sucessor?
Um município com uma legislação bastante atualizada. Fizemos muitas alterações e adequações de leis. Criamos leis de incentivos que dão segurança jurídica. Melhoramos a legislação administrativa. Estamos entregando ao prefeito eleito uma sugestão de regulamentação para o almoxarifado, que é resultado do trabalho de uma comissão e se faz muito importante para a gestão das compras, além de uma sugestão para subsídio ao transporte universitário que leva em consideração o perfil sócio-econômico do estudante, não mais repasse à associação. Outro programa é a Moeda Verde, que concede bônus para compra na Feira do Produtor para quem descarta corretamente volumosos e eletroeletrônicos. Tem ainda a valorização da remuneração do servidor e a reforma previdenciária que já implementamos, limitando a aposentadoria do servidor ao teto do INSS e criando a contribuição previdenciária complementar por livre adesão, medidas decisivas para garantir a saúde financeira do município no futuro. Vamos entregar recursos significativos em caixa, nenhuma pendência de pagamento, uma equipe técnica muito competente para auxiliar Armando Roos na sua administração, que certamente vai superar as expectativas da comunidade não-me-toquense, além de 24 obras em andamento com os recursos reservado para sua execução.

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